sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

RECEITA DE ANO NOVO



RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegrama?).
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

ALEATÓRIOS



ALEATÓRIOS

Narciso é a flor
Ou a flor é que é Narciso?

Narciso se mira no lago
Ou é o lago que se mira em Narciso?

O lago sou eu
Narciso é a flor
Que flutua em mim
Juntos nos mesclamos
Nos vertemos em líquido
E jorramos estrelas!

Adão chegou
Trouxe uma flor
Com seu pudor
Cobriu o sexo
Com ela.

Adão e Eva
No Paraíso
Foram felizes
Quando viviam
Nus nas naus
Sem máscaras
Sem pudores
Sem fronteiras
Sem convenções!

A boca bebe a luz da lua
O nariz cheira perfumes de estrelas
Um cachorro late para o sol...
Que loucura dançar esta música!
Vejo revistas, caras, bocas, colheres, comidas
livros, convites, papéis, festas...
Um redemoinho gira
E caio num abismo
De convenções...

PAIXÃO


PAIXÃO

Paixão é dor, aflição?
Prazer e tesão?
Está no cérebro
Ou no coração?
Está no corpo todo
Busca o princípio
Do prazer
E faz o mundo
Se mover.

domingo, 2 de novembro de 2008

ESCREVER PARA SOBREVIVER



Elenco:
Pat Carroll Patrick Dempsey
Jason Finn Scott Glenn
David Goldsmith Kristin Herrera
Blake Hightower John Benjamin Hickey
Will Morales Anh Tuan Nguyen
Vanetta Smith Imelda Staunton
Hilary Swank Deance Wyatt

Direção: Richard LaGravenese
Produção: Danny DeVito
Michael Shamberg
Stacey Sher
Fotografia: Jim Denault
Trilha Sonora: Mark Isham
RZA

O filme "Escritores da liberdade" (Freedom writer's)mostra uma realidade da educação nos Estados Unidos que nos diz respeito de perto. O filme mostra uma professora idealista que começa a lecionar para uma turma de primeira série de ensino médio em um bairro de Long Beach em que os pobres, negros, hispânicos, refugiados cambojanos, são relegados à marginalidade. Tratados como seres de segunda categoria,a única coisa que conseguem para garantir a sobrevivência é ser membros de gangs e viver em luta para marcar o seu território.
Apenas lutar pela sobreviência é algo que relega as pessoas à condição de animais. Assim, não é surpresa que esses jovens tenham esse tipo de comportamento. A maioria dos alunos dessa história (real) já haviam sido vítimas de crimes, expulsos de casa ou passado em reformatórios.
Discriminados pela escola, o professor do terceiro ano diz que a maioria cairia fora antes do terceiro anos, a diretora afirma que são incapazes e que a professora não poderia fazer nada. A princípio ela tenta seguir o conteúdo tradicional, mas percebe que não atinge aqueles jovens tão sofridos. Uma pergunta crucial de uma aluna a faz mudar a prática: "o que você faz aí na frente que pode mudar a minha vida?"
Ela não se conforma com essa situação, acredita nos jovens, esquece o conteúdo tradicional e propõe que comecem a escrever. Pede-lhes que escrevam o que quiserem e que ela só os lerá se eles assim desejarem.
Ela luta para conseguir livros, já que a escola não a apóia, mostrando que é preciso ampliar o horizonte desses jovens (que têm entre 14 a 17 anos).
O resultado é que ela consegue mudar a vida dos adolescentes para melhor, mostrando a eles que há um mundo maior, que eles podem mudar a sua vida e não ficar apenas no papel de vítimas.
Apesar disso, a professora faz coisas que eu não faria, como arrumar outro emprego para comprar livros para os alunos. Também não acho que só a iniciativa individual vá mudar a educação. Mas é importante o entusiasmo, o idealismo, acreditar nos alunos. Só isso não transforma a educação, mas faz toda a diferença.
Tenho certeza que no Brasil também temos experiências como essa, só que aqui não se transformam em filmes. Por que será? Provavelmente porque não registramos nossas experiências. Não está na hora de começarmos?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

CETICISMO



Não acredito em fadas,
Nem em fado,
A existência
Precede
A essência.

Não acredito em sorte
A minha eu faço
A machadadas.

Por isso
Chuto a bunda do Destino
E vou cuidar
Da minha vida.

domingo, 26 de outubro de 2008

O CÃO


O CÃO

O cão arreganhava os dentes diante do portão da enorme mansão. O enorme cão cinza de olhos claros parecia querer abocanhar o primeiro que aparecesse para invadi-la. Olhava os passantes com raiva por trás das grades do portão. O seu problema era ser animal. Foi especialmente preparado para defender a propriedade privada. Desde pequenininho davam-lhe um prato de comida e outras recompensas sempre que fazia a coisa certa. O bom e velho Pavlov tinha razão ao desenvolver a teoria do condicionamento. Realmente, o tal estímulo-resposta funcionava mesmo!
Era um cão treinado. Fosse um lobo e agiria apenas por instinto e não olharia as pessoas com tanto ódio. Ódio que lhe fora ensinado por seus donos, pessoas de muitas posses. Por isso, tinham medo de perdê-lo e ensinaram-lhe a cuidar de sua propriedade com zelo como se ela fosse sua. Ensinaram-lhe a ter raiva de pobres, pretos, pedintes, mendigos, molambos. Ensinaram-lhe a odiar qualquer ameaça a seu mundo cor-de-rosa.
Sempre que aprecia no portão um ser estranho, ele atacava. Sabia identificar pelo cheiro as pessoas amigas. Geralmente, usavam perfumes franceses e tinham caras iguais, bem cuidadas. Ele via aquelas caras sorridentes, algumas cheias de maquiagem e estava acostumado com elas. Detestava as empregadas, jardineiros e os mordomos. Se pudesse pensar, talvez entendesse essa sua raiva. Estas pessoas lembravam-lhe a sua condição de subserviência, o que o deixaria profundamente irritado. Mas, naturalmente, não pensava. Animais não pensam.

Um dia, esqueceram o portão aberto e ele escapou. No início, bebeu o ar da liberdade. Correu, chafurdou na lama e revirou latas de lixo junto com seus velhos companheiros de espécie. Brigou, latiu para a lua, namorou muitas cadelas...
Mas...Se cansou da liberdade. Não tinha nascido livre, não tinha crescido livre. Toda sua vida viveu recebendo ordens. Quando saiu de casa, esperava que alguém o procurasse. Queria gozar ao máximo o tempo livre que tinha e pretendia voltar assim que fosse encontrado. Ele sabia que era um cão de raça que custava caro, por isso acreditou que seria procurado e encontrado. Andou perto da casa e teria voltado se não tivesse encontrado o portão fechado.
Não foi encontrado. Rondou em volta da casa, acabrunhado, arrependido de ter fugido, deprimido mesmo, com o rabo entre as pernas até que viu outro cachorro no quintal, naquele quintal que fora seu um dia! a dor foi muita e ele ganiu. Choraria se soubesse chorar, mas era apenas um animal sem valor que podia ser substituído por quem possui muito dinheiro. Que faria agora? Qual seria o rumo de sua vida? Ele se perguntaria se entendesse o que estava acontecendo. Mas era apenas um animal. Não sabia pensar.
Como um cão vira-latas, vagou, vagou e vagou, só e abandonado. Comia restos e sentia saudades do tratamento que tinha na casa dos ricos. Tinha cama boa, comida boa, não tomava chuva, não passava frio e só tinha que pagar por isso cuidando da casa deles, não deixando aqueles estranhos entrar. Estes seres com quem agora tinha que conviver e repartir a comida, seres nojentos que as vezes acariciavam-lhe, outras maltratavam-lhe. Não gostava deles, queria o cheiro de perfume francês da mansão rica, tinha nojo do mau-cheiro dos pobres. A que ponto chegara! Pensaria, se pudesse pensar. Mas era animal. E animal não pensa.

E assim ele vagou por muito tempo sofrendo inúmeras privações. Até que um dia foi encontrado. Não pela família anterior, como ele esperava, mas por um rapaz tão só e abandonado como ele. O rapaz morava sozinho numa casa de um só cômodo num bairro sujo e fedorento da periferia. Não era a mesma coisa, mas já era algum conforto.
Tinha agora o que comer e onde dormir sem passar frio. Mas não se sentia agradecido ao rapaz. Achava que ele tinha feito sua obrigação, portanto não lhe fazia festinhas quando ele chegava, nem lhe balançava o rabo, nem mesmo quando era acariciado. Se pudesse raciocinar, acharia que ele apenas queria companhia e pagava por isto dando-lhe casa e comida. Mas não pensava, não era humano.
O rapaz estava desempregado e saia todos os dias à procura de emprego. Até que soube de um concurso para a Polícia Militar. Prestou-o e passou. Sabendo que o seu cão era de raça resolveu leva-lo para os treinamentos. O cão e o rapaz foram bem aceitos pela polícia pois os dois eram cumpridores dos deveres e capaz de submeterem à disciplinas rígidas.
O cão logo engordou e ficou mais ágil, seu dono também. A sua cor cinza e o uniforme de seu companheiro, agora um soldado da PM, quase que se confundiam. Sabiam que tinham nascido para este trabalho.
O cão e seu companheiros policiais adoravam maltratar mendigos, pobres, pretos, molambos, crianças pedintes e casais de namorados. Ele percebeu que tinha ido ao lugar certo e chegou quase a ter amizade por seu dono, o rapaz que o tirou das ruas e o levou para ser um cão da polícia militar. Mas não podia sentir estes afetos, era apenas um animal.
Agora, sentia-se quase feliz com seu trabalho, tão parecido com o anterior, de proteger a propriedade alheia. O rapaz, com seu salário e apenas os dois para sustentar, já comia melhor. Havia até carne! Haviam se mudado para uma casinha maior e mais confortável e à noite ele dormia sonhando com perfumes franceses. (1995)

BORBOLETA















Borboleta errante
Voa, voa de flor em flor
Borboleta amante
Vive em busca do amor.

As flores são alegres
Atraem sua atenção
Como amar apenas uma
Se todas lindas são?

Borboleta errante
Voa, voa de flor em flor
Borboleta amante
Vive em busca do amor.

As flores são cheias de cores
Vermelhas, azuis,Amarelas
Cada uma tem sua beleza
E todas são tão belas!

Borboleta errante
Voa, voa de flor em flor
Borboleta amante
Vive em busca do amor.

O amor é tão gostoso
Como o vôo das borboletas
É como sentir o perfume das flores
E flutuar no ar em piruetas.

Borboleta errante
Voa, voa de flor em flor
Borboleta amante
Vive em busca do amor.

Mas esse amor não sacia
Cada toque em cada flor
Aumenta a sede de amar
Que se transforma em dor.


(Geralda,1995)

sábado, 18 de outubro de 2008

CONTO DE FADAS MODERNO



'Conto de Fadas para Mulheres do Século 21'


Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa,
independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã.
Então, a rã pulou para o seu colo e disse:
Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas, uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias
as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre...
E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava:



'Nem fo...den...do!'.

(Luís Fernando Veríssimo)(SERÁ QUE É DELE MESMO? NÃO SEI, RECEBI POR E-MAIL).

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A CRIANÇA QUE EU FUI

A CRIANÇA QUE EU FUI


A criança que eu fui
chora
agarrada ao travesseiro
quer colo
carinho
e faz travessuras.

A criança que eu fui
ouve histórias
conta casos
vê imagens
nas nuvens
e sorve o tempo
sem medo.

A criança que eu fui
está aqui
bem viva
cheia de alegria
abre as portas
do meu mundo
de fantasia.


A criança que eu fui
vive em mim
todo dia
sonha
dá risada
ingenuamente
confia.

Geralda c12/10/2008

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

MARIA


MARIA

Ela se arruma em frente ao espelho. Penteia os cabelos negros de índia. A noite está bonita, cálida, quente. Talvez hoje eu volte mais cedo para casa. Talvez hoje eu possa ficar com meu filho... Um choro de criança... O que foi, meu filho? Mamãe, você vai sair? A mamãe precisa ganhar o seu pão. Não quero pão, mamãe, quero ir com você. Me leva, tenho medo de ficar sozinho. Tem medo, não, filinho, durma, que mamãe já vem.
Sai com dor no coração. Quando será que deixarei esta vida? Quando poderei cuidar do meu filho? Ela está bonita. Seu nome, Maria, igual ao de tantas mulheres, mães iguais a elas, mas amparadas por seus maridos, pais, famílias... E ela? Pra ela, nada. Pra ela, resta ser a privada do mundo. Pra ela, resta a desventura de ser mulher sozinha, sem profissão, sem emprego, de ter um filho sem pai...Meu filho...Única criatura que me ama. Única criatura pela qual ainda em importa viver...
Um homem se aproxima interrompendo o fio dos pensamentos. Maria vai...Os corpos unidos...O homem grunhe de prazer. Maria não deixa de pensar no filho. será que está dormindo? Será que está bem? O homem se vai e Maria volta ao seu lugar. A angústia toma conta dela. Quero deixar esta vida. Quando poderei? Quero ser só eu. quero ser só mãe. Quero amar um homem. Quero sentir prazer. Por que não posso? ...Outro homem...
Maria volta para casa. O dia está quase amanhecendo. Em seu coração, a noite também começa a ir embora. Ela vai poder ser ela de novo. Vai poder parar de fingir um prazer que não sente... Abre a porta silenciosamente. O menino dorme. Ela faz o café para quando ele acordar. Mamãe, você voltou?! Tive medo. Ouvi barulhos lá fora. Onde você estava? Fica calmo, filinho, mamãe está aqui agora. Trouxe pão, leite, doces, leva tudo para a cama e comem juntos, alegremente. Maria está feliz. Lembra-se de sua infância, conta histórias, canta. apesar da noite em claro, não dorme para usufruir da companhia do filho.
Mas o dia acaba e a noite chega com suas angústias. O menino está doente e Maria não pode sair. A doença durou dias. O dinheiro não deu para comprar os remédios. Numa noite friosa, o menino morreu. Silenciosamente... Maria não chorou. Ele estava livre. Não ia mais ficar sozinho. Os anjos iam cuidar dele... Ah, mas ela também queria cuidar! Foi ao fogão, inspecionou o botijão do gás, verificou que estava cheio. Tampou todas as frestas e, silenciosamente, dormiu...
Ninguém notou a falta dos dois, nem mesmo os clientes de Maria, tantas são as moças que esperam na esquina como ela. Só no dia em que o senhorio foi cobrar o aluguel é que sentiu um cheiro estranho. Chamou a polícia que arrombou a porta. Os dois corpos estavam em decomposição, mas, mesmo assim, dava para vislumbrar o sorriso no rosto de Maria, que agora cuidava de seu filho.
Geralda
Este conto ganhou um concurso de crônicas do Jornal do Campus em 1997

domingo, 5 de outubro de 2008

DE DIA


DE DIA


É dia...
Os trabalhadores passam apressados
E nem vêem o menino dormindo
O menino, que à noite cheirou cola
Para agüentar a fome e o medo...


Não vêem a prostituta que dorme
Para esquecer o tédio da vida.

Não vêem o mendigo que morreu
De frio durante a noite.

Não vêem a polícia
Que não os protegerá da miséria
Que poderá transformá-los, à noite
Em mendigos ou clientes da prostituta
Que terá um filho
Que vai cheirar cola de fome
Que vai virar mendigo
Que vai morrer de frio
Depois de gerar outro menino
Que vai cheirar cola...
.............ETC.........

À NOITE...


À NOITE


É noite...
Um menino cheira cola na esquina
Um mendigo dorme num banco
Uma prostituta entediada espera...

Um carro de polícia sireneia ao longe...
...E todos se sobressaltam
!!!???!!!

O menino joga a cola
E quer voltar para a escola
O mendigo acorda e chora
De frio...
A prostituta acha um cliente
Quente...
E sai..

O carro passa...

E a noite volta
Com sua cara de tédio
De medo, de frio, de dor...
À NOITE


É noite...
Um menino cheira cola na esquina
Um mendigo dorme num banco
Uma prostituta entediada espera...

Um carro de polícia sireneia ao longe...
...E todos se sobressaltam
!!!???!!!

O menino joga a cola
E quer voltar para a escola
O mendigo acorda e chora
De frio...
A prostituta acha um cliente
Quente...
E sai..

O carro passa...

E a noite volta
Com sua cara de tédio
De medo, de frio, de dor...

RAZÕES

RAZÕES

Amo-te loucamente
Sem nenhuma razão
Que seja aparente.
Mas amor não tem razões
Que se possam explicar
Ultrapassa todas as fronteiras
Das leis da nossa mente.

Coração não tem juízo
Nem tampouco raciocínio
Pois se fosse inteligente
Não seria negligente
E escolhia para amar
A pessoa ideal
Que correspondesse
Os sentimentos da gente.

MOMENTOS NO TEMPO


imagem do site: http://poeticasemportugues.blogspot.com/2007_02_01_archive.html

MOMENTOS NO TEMPO

Jamais esquecerei
Estes momentos
Soltos no espaço
E no tempo
Em que estivemos juntos
No Paraíso
Banhados pela luz cósmica
Numa imensa troca de energia

Ah, que momentos preciosos!
Cheios de emoção e magia
Em que a vida se fez presente
Num grito de euforia!

Momentos em que o tempo
Deveria parar.
Mas, que ironia!
São nestes momentos
Que não o vemos passar.

AS PEDRAS




AS PEDRAS

Para o meu querido poeta de cabeceira
Carlos Drummond de Andrade.
Drummond, você tem razão:
tem sempre uma pedra no meio do caminho.




Jamais esquecerei aquele momento
De tamanha perplexidade
No meu caminho para o meio
Havia pedras espalhadas.

Pedras havia de montão
No meio do caminho jogadas.

Como em todo meio de caminho
A gente dá mil tropeçadas
Tropecei naquelas pedras
No meio do caminho jogadas.

Pedras havia de montão
No meio do caminho jogadas.

Não sei se jogaram de propósito
Não sei se lutei em vão
Só sei que com pés machucados
De tanta pedra lascada
Cheguei no meio do caminho
Do meu caminho para o meio
Cada vez com mais pedras jogadas.

(1995)

sexta-feira, 26 de setembro de 2008


PALAVRAS DE POETAS

Para José Paulo Paes

O poeta brinca
Com as palavras
E as palavras brincam
Com o poeta.
Ele pega uma lá
Outra cá...e...
Olha só! Sai uma poesia
Diferente da que queria
Mas tão bonita!


Mas o poeta quer mais
As palavras são infinitas:
Como fazer para dizer o que penso?
Com essa falei um pouco
Mas quero muito mais!

Os poemas dizem tanto
E nunca são iguais
Esse fala de amor
Aquele de ideais
Outro fala de dor...

E a vida vai escorrendo
Num fio interminável
Na infinitude
Das palavras dos poetas

Foto: geocities
AOS REVOLUCIONÁRIOS


O mundo, a vida
Contradiz os dizeres
Daqueles que querem
Mudá-lo...

Na vida corrida
Não vemos...
O azul do céu
O brilho do sol...
...A vida...

Anestesiamo-nos...

Não vemos a beleza
Empurramos a vida
No limite do cotidiano
E deixamos a rotina
Dominar os nossos sonhos.

(1992)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

auto-retrato


AUTO-RETRATO

Eu vim de longe
Do fundo do mundo
Das entranhas de minha mãe
Mas era tão perto
Não sei ao certo
O que me tornei.
Fiquei tão eu!
Tão Ninguém!
Tão Mundo!
Que às vezes nem me reconheço
-Prendendo cabelos no espelho-
E volto ao mundo tão lá no fundo.
Mas agora só meu
Não mais de minha mãe...

EN EL BORDE DE LAS TAZAS


Laura Yasan

una mujer
se mueve en el denso fluir de sus instintos
sabe quebrar
la cáscara de una intención
una mujer
abarca por fragmentos la totalidad
y nunca es la misma

un hombre
sube al misterio en una extrema progresión
descubre el sentimiento
acorralado en un límite
el resto
lo filtra en el pensar

una mujer
es a la vez su historia
y lo que aún no ha conocido
sabe ordenar lo que no ve

un hombre
arriba al corazón del mundo
en cada vértice de su conocimiento
se instala en lo que ve
y se proyecta

una mujer es todas las mujeres
pero es única
un hombre es todos los hombres
pero es único

un hombre y una mujer
nunca se conocen
saben suponer
saben crear sobre el malentendido
son cada uno
mitad secreto
mitad vacío

un hombre y una mujer
a lo largo de cientos de actos cotidianos
cruzan información
dejan la vida escrita
en el borde de las tazas

cada día se escribe
cada día se lava

quinta-feira, 4 de setembro de 2008





















ENCASULANDO


Dentro do casulo
O bicho-da-seda
Constrói sua trama
Que se transforma
Em pura seda.
Findo o trabalho
Sai do casulo
Feito borboleta.

No calor do mundo interno
Os fios da seda
Vão se entrelaçando
Formando um único tecido:
As dores e alegrias
Angústias e prazeres
Momentos fugazes...
Formam a trama
Que se enroscando
Vai
Construindo a borboleta-mulher:
Butterfly!


(1994)

quinta-feira, 28 de agosto de 2008


quarta-feira, 20 de agosto de 2008



Fragmentos de un evangelio apócrifo


Jorge Luís Borges


3. Desdichado el pobre en espíritu, porque bajo la tierra será lo que ahora es en la tierra.
4. Desdichado el que llora, porque ya tiene el hábito miserable del llanto.
5. Dichosos los que saben que el sufrimiento no es una corona de gloria.
6. No basta ser el último para ser alguna vez el primero.
7. Feliz el que no insiste en tener razón, porque nadie la tiene o todos la tienen.
8. Feliz el que perdona a los otros y el que se perdona a sí mismo.
9. Bienaventurados los mansos, porque no condescienden a la discordia.
10. Bienaventurados los que no tienen hambre de justicia, porque saben que nuestra suerte, adversa o piadosa, es obra del azar, que es inescrutable.
11. Bienaventurados los misericordiosos, porque su dicha está en el ejercicio de la misericordia y no en la esperanza de un premio.
12. Bienaventurados los de limpio corazón, porque ven a Dios.
13. Bienaventurados los que padecen persecución por causa de la justicia, porque les importa más la justicia que su destino humano.
14. Nadie es la sal de la tierra, nadie, en algún momento de su vida, no lo es.
15. Que la luz de una lámpara se encienda, aunque ningún hombre la vea. Dios la verá.
16. No hay mandamiento que no pueda ser infringido, y también los que digo y los que los profetas dijeron.
17. El que matare por la causa de la justicia, o por la causa que él cree justa, no tiene culpa.
18. Los actos de los hombres no merecen ni el fuego ni los cielos.
19. No odies a tu enemigo, porque si lo haces, eres de algún modo su esclavo. Tu odio nunca será mejor que tu paz.
20. Si te ofendiere tu mano derecha, perdónala; eres tu cuerpo y eres tu alma y es arduo, o imposible, fijar la frontera que los divide...
24. No exageres el culto de la verdad; no hay hombre que al cabo de un día, no haya mentido con razón muchas veces.
25. No jures, porque todo juramento es un énfasis.
26. Resiste al mal, pero sin asombro y sin ira. A quien te hiriere en la mejilla derecha, puedes volverle la otra, siempre que no te mueva el temor.
27. Yo no hablo de venganza ni de perdones; el olvido es la única venganza y el único perdón. Hacer el bien a tu enemigo puede ser obra de justicia y no es arduo; amarlo, tarea de ángeles y no de hombres.
29. Hacer el bien a tu enemigo es el mejor modo de complacer tu vanidad.
30. No acumules oro en la tierra, porque el oro es padre del ocio, y éste, de la tristeza y el tedio.
31. Piensa que los otros son justos o lo serán, y si no es así, no es tuyo el error.
32. Dios es más generoso que los hombres y los medirá con otra medida.
33. Da lo santo a los perros, echa tus perlas a los puercos; lo que importa es dar.
34. Busca por el agrado de buscar, no por el de encontrar...
39. La puerta es la que elige, no el hombre.
40. No juzgues al árbol por sus frutos ni al hombre por sus obras; pueden ser peores o mejores.
41. Nada se edifica sobre la piedra, todo sobre la arena, pero nuestro deber es edificar como si fuera piedra la arena...
47. Feliz el pobre sin amargura o el rico sin soberbia.
48. Felices los valientes, los que aceptan con ánimo parejo la derrota o las palmas.
49.Felices los que guardan en la memoria palabras de Virgilio o de Cristo, porque éstas darán a luz a sus días.
50. Felices los amados y los amantes y los que pueden prescindir del amor.
51. Felices los felices.
Homenagem ao autor que em 24 de agosto desse ano faria 109 anos. Leia um pouco de sua biografia:
Jorge Luis Borges nació en Buenos Aires el 24 de agosto de 1899. Por influencia de su abuela inglesa, fue alfabetizado en inglés y en español. En 1914, viajó con su familia a Europa y se instaló en Ginebra, donde cursó el bachillerato. Pasó en 1919 a España y allí entró en contacto con el movimiento ultraísta. En 1921, regresó a Buenos Aires y fundó con otros importantes escritores la revista Proa. En 1923, publicó su primer libro de poemas, Fervor de Buenos Aires. Desde esa época, se enferma de los ojos, sufre sucesivas operaciones de cataratas y pierde casi por completo la vista en 1955. Tiempos después se referiría a su ceguera como "un lento crepúsculo que ya dura más de medio siglo".
Desde su primer libro hasta la publicación de sus Obras Completas (1974), trascurrieron cincuenta años de creación literaria durante los cuales Borges superó su enfermedad escribiendo o dictando libros de poemas, cuentos y ensayos, admirados hoy en todo el mundo. Recibió importantes distinciones de diversas universidades y gobiernos extranjeros y numerosos premios, entre ellos el Cervantes en 1980. Su obra fue traducida a más de veinticinco idiomas y llevada al cine y a la televisión. Prólogos, antologías, traducciones, cursos y charlas dan testimonio de la labor infatigable de ese gran escritor, que cambió la prosa en castellano, como lo han reconocido sin excepción sus contemporáneos. Borges falleció en Ginebra el 14 de junio de 1986.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008






ANGÚSTIA
que estreito é meu coração!



dor...



solidão...
o mundo é grande assim mesmo?
cabe inteiro dentro do meu coração?
cada vez mais vazio
dolorido
apertado
se essa dor que sinto
rasgasse o meu peito
causaria um terremoto
um tufão
talvez
tempestade...

domingo, 10 de agosto de 2008

MUlher



No princípio eu era a Eva
Criada para a felicidade de Adão
Mais tarde fui Maria
Dando à luz aquele
Que traria a salvação
Mas isso não bastaria
Para eu encontrar perdão.
Passei a ser Amélia
A mulher de verdade
Para a sociedade
Não tinha a menor vaidade
Mas sonhava com a igualdade.
Muito tempo depois decidi:
Não dá mais!
Quero minha dignidade
Tenho meus ideais!
Hoje não sou só esposa ou filha
Sou pai, mãe, arrimo de família
Sou caminhoneira, taxista,
Piloto de avião, policial feminina,
Operária em construção...
Ao mundo peço licença
Para atuar onde quiser
Meu sobrenome é COMPETÊNCIA
E meu nome é MULHER..!!!!

A Autora é Desconhecida,
mas uma verdadeira sábia...

Se alguém conhecer ou for a autora,
entre em contato comigo.

domingo, 27 de julho de 2008





Mulherão

Texto de Martha Medeiros


Peça para um homem descrever um mulherão.
Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum e cor dos olhos...

Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira, 1,80 m, siliconizada, sorriso Colgate. Mulherões, dentro desse conceito, não existem muitas: Vera Fisher, Malu Mader, Adriane Galisteu, Letícia Spiler, Lumas e Brunas.

Agora, pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão, e você vai descobrir que tem uma em cada esquina...

Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir ao trabalho e mais dois para voltar. E, quando chega em casa, encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome.

Mulherão é aquela que vai de madrugada para a fila garantir matrícula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão de R$ 100,00.

Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta e uma família todos os dias da semana.

Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas, depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento.

Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dietas, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista.

Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva os filhos na natação, busca os filhos na natação, leva os filhos para a cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz.

Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega. Ë quem, de manhã bem cedo, já está de pé, esquentando o leite.

Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava a roupa para fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e, à tarde, trabalha atrás de balcão.

Mulherão é quem cria os filhos sozinha, é quem dá expediente de 8 horas e enfrenta menopausa, TPM e menstruação.

Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios.

Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio para azia.

Lumas, Brunas, Canas, Luanas e Sheilas: mulheres nota 10 no quesito lindas de morrer, mas mulherão é quem mata um leão por dia!

A OPRESSÃO COMEÇA PELO CORPO




Eu tinha 13 anos, em Fortaleza, quando ouvi gritos de pavor. Vinha da vizinhança, da casa de Bete, mocinha linda, que usava tranças. Levei apenas uma hora para saber o motivo. Bete fora acusada de não ser mais virgem e os irmãos a subjugavam em cima de sua estreita cama de solteira, para que o médico da família lhe enfiasse a mão enluvada entre as pernas e decretasse se tinha ou não o selo da honra. Como o lacre continuava lá, os pais respiraram, mas a Bete nunca mais foi à janela, nunca mais dançou nos bailes e acabou fugindo para o Piauí, ninguém sabe como, nem com quem.

Eu tinha apenas 14 anos, quando Maria Lúcia tentou escapar, saltando o muro alto do quintal da sua casa para se encontrar com o namorado. Agarrada pelos cabelos e dominada, não conseguiu passar no exame ginecológico. O laudo médico registrou vestígios himenais dilacerados, e os pais internaram a pecadora no reformatório Bom Pastor, para se esquecer do mundo. Realmente esqueceu, morrendo tuberculosa.

Estes episódios marcaram para sempre e a minha consciência e me fizeram perguntar que poder é esse que a família e os homens têm sobre o corpo das mulheres? Ontem, para mutilar, amordaçar, silenciar. Hoje, para manipular, moldar, escravizar aos estereótipos. Todos vimos, na televisão, modelos torturados por seguidas cirurgias plásticas. Transformaram seus seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte americanas. Entupiram as nádegas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais, garantindo sucesso nas passarelas do samba. Substituíram os narizes, desviaram costas, mudaram o traçado do dorso para se adaptarem à moda do momento e ficarem irresistíveis diante dos homens. E, com isso, Barbies de fancaria, provocaram em muitas outras mulheres; as baixinhas, as gordas, as de óculos; um sentimento de perda de auto-estima.

Isso exatamente no momento em que a maioria de estudantes universitários (56%) é composta de moças. Em que mulheres se afirmam na magistratura, na pesquisa científica, na política, no jornalismo. E, no momento em que as pioneiras do feminismo passam a defender a teoria de que é preciso feminilizar o mundo e torná-lo mais distante da barbárie mercantilista e mais próximo do humanismo.

Por mim, acho que só as mulheres podem desarmar a sociedade. Até porque elas são desarmadas pela própria natureza. Nascem sem pênis, sem o poder fálico da penetração e do estupro, tão bem representado por pistolas, revólveres, flechas, espadas e punhais. Ninguém diz, de uma mulher, que ela é de espada. Ninguém lhe dá, na primeira infância, um fuzil de plástico, como fazem com os meninos, para fortalecer sua virilidade e violência.

As mulheres detestam o sangue, até mesmo porque têm que derramá-lo na menstruação ou no parto. Odeiam as guerras, os exércitos regulares ou as gangues urbanas, porque lhes tiram os filhos de sua convivência e os colocam na marginalidade, na insegurança e na violência. É preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande articuladora da paz.

E para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher. Respeito às suas pernas que têm varizes porque carregam latas d'água e trouxas de roupa. Respeito aos seus seios que perderam a firmeza porque amamentaram seus filhos ao longo dos anos. Respeito ao seu dorso que engrossou, porque elas carregam o país nas costas. São as mulheres que irão impor um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas e puderem fazer prevalecer à ternura de suas mentes e a doçura de seus corações".
Rita Lee










Esse texto circula pela internet como da Rita Lee, mas ela nega sua autoria.

domingo, 6 de julho de 2008

FLUIDEZ







Fluidez


a vida flui

pelos
de

dos

es

co

rre
rapidamente

não podemos

prendê-la

como um


rio

a vida

flui...

os obstáculos

podem prender

as águas

do rio

mas não as impedem

de correr

ao seu destino

RECEITA DE HOMEM








RECEITA DE HOMEM

É preciso que seja doce
E que tenha ternura no olhar
Que seus ouvidos sejam atentos
E que seus lábios saibam falar.
Seu corpo deve ser sensível
Aos toques e beijos
Deve ter braços fortes
Para poder abraçar
Nas tristezas e alegrias
E nos momentos de prazer.
Suas mãos devem ser leves
Quando tiverem que tocar.
Deve possuir um quê de mistério
Com segredos pra desvendar
Deve gostar de flores
De música, de ler e conversar.
Não precisa ser bonito
Nem pertencer aos padrões de beleza
Mas deve ter sensualidade
Revelada no olhar
Que mantenha sempre acesa
A chama do desejo.
Que ele venha como um príncipe
Montado num cavalo branco
Mas que mantenha
Os pés no chão.
Não precisa ser poeta
Mas deve gostar de olhar as estrelas
Não precisa ser romântico
Mas deve proporcionar um clima
Que lembre lareiras crepitando.
Não deve ser muito asseado
Que perca o odor selvagem
De homem-animal-sensual.
Deve ter firmeza de caráter
Firmeza de personalidade
Clareza de suas contradições
Desejo de superá-las.
Deve ter senso de realidade
E vontade de mudar o mundo!
E os machistas que me perdoem
Mas sensibilidade é fundamental!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Eduardo e Mônica revisitados

Atualizaram a letra da música Eduardo e Mônica
Achei muito boa! Clique na imagem que você pode vê-la maior.

domingo, 29 de junho de 2008


CRÉU, CRÉU, CRÉU OU A REGRESSÃO DA LINGUAGEM



A dança do créu é aparentemente uma musiquinha inocente em que um DJ vai falando e incitando as pessoas a dançar. Ele vai aumentando a velocidade e repetindo "créu, créu, créu" em velocidade cada vez maior que os dançarinos têm que acompanhar.

Como brincadeira é algo divertido e como exercício aeróbico é extremamente interessante para queimar calorias.

Agora vamos pensar do ponto de vista linguístico: o que significa a palavra "créu"? Ela não está dicionarizada, embora já faça parte da boca do povo há um tempão. Nunca foi usada assim sozinha, mas sempre com um verbo junto: a expressão é "dar um créu" que pode significar apertar, intimidar, agarrar, forçar ou até mesmo com conotação sexual, uma gíria para a transa, a cópula.
Assim podemos dizer que o significado dessa "música" tem um sentido sexual, embora o seu autor, Sérgio Costa, o MC Créu, diga que a tenha criado a partir de uma fala de seu filho que 7 anos que dizia "créu, créu, créu". Depois dessa iluminação ele criou a letra, colocou umas mocinhas com atributos interessantes e extremamente inteligentes para criar novas e criativas coreografias que mostram o quanto contribuem para valorizar a mulher e voilá! Estava criado o hit do momento! E de repente todo mundo começa repetindo a grande e iluminada frase "créu, créu, créu" à exaustão. Até criancinhas que mal começaram a falar repetem incessantemente o refrão.
É aí que paramos para pensar: o que ocorre? Que estranho fenômeno é esse que faz com as pessoas fiquem repetindo sons que mais parecem grunhidos?Isso não é algo novo. A cada verão surge um grupelho novo com um tipo desse de som e de coreografia para aquecer a estação e duram exatamente esse tempo: uma estação. Porém, a mídia explora ao máximo esse momento e usa esses grupos e suas garotas como um creme dental, espremendo até o fim. Quando acaba, jogam fora mas arrumam outro para substituir. É o mesmo velho com cara nova. Mas isso só ocorre porque encontra eco nas pessoas que consomem essa mídia, porque se não encontrassem, não haveria tanto sucesso.

O que nos leva à nossa reflexão sobre a regressão da linguagem. Parece que há um retrocesso do pensamento e da linguagem, pois surgem letras vazias, desprovidas de sentido, mas que chamam a atenção pelo ritmo e é aí que todos repetem, mecanicamente, como se fosse apenas um som, um eco.

Onde foi parar a criatividade?

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Encasulando


ENCASULANDO


Dentro do casulo
O bicho-da-seda
Constrói sua trama
Que se transforma
Em pura seda.
Findo o trabalho
Sai do casulo
Feito borboleta.

No calor do mundo interno
Os fios da seda
Vão se entrelaçando
Formando um único tecido:
As dores e alegrias
Angústias e prazeres
Momentos fugazes...
Formam a trama
Que se enroscando
Vai
Construindo a borboleta-mulher:
Butterfly!
reflexão
s. f.
reflexão
do Lat. reflexione
s. f.,
acto ou efeito de reflectir;
retorno do pensamento sobre si mesmo, com vista a examinar mais profundamente uma ideia, uma situação, um problema;
meditação;
tino;
ponderação;
prudência;
Fís.,
desvio de direcção das ondas luminosas ou sonoras que encontram um corpo interposto;
processo no qual uma radiação, ao incidir numa superfície, volta para trás em vez de a penetrar.
Fís.,
ângulo de -: o ângulo entre o raio de luz reflectido por uma superfície e a perpendicular à superfície no ponto de reflexão.