domingo, 8 de março de 2009





UM CONTO DE FADAS MODERNO

Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho, deixando a água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu o seu anel de diamante ser levado pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margaridas. O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse:- Agora me lembro, não era um homem, mas dois.E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem, e o encontraram, e o mataram, mas ele também não tinha o anel. E a donzela disse:- Então está com o terceiro!Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da donzela saíram no encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram, e encontraram no seu bolso o anel de diamante da donzela, para espanto dela.- Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo e a deixou desfalecida – gritaram os aldeões. – Matem-no!- Esperem! – gritou o homem, no momento em que passavam a corda da forca pelo seu pescoço. – Eu não roubei o anel. Foi ela que me deu!E apontou a donzela, diante do escândalo de todos.O homem contou que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a donzela se aproximou e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas como ele era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel, dizendo: “Já que meus encantos não o seduzem, este anel comprará o seu amor.” E ele sucumbira, pois era pobre, e a necessidade é o algoz da honra.Todos se viraram contra a donzela e gritaram: “Rameira! Impura! Diaba!” e exigiram seu sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a forca para o seu pescoço.Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:- A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira, e vão matar pela sua. Onde está, afinal, a verdade?O pescador deu de ombros e disse:- A verdade é que eu achei este anel na barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer violência e sexo, não histórias de pescador.(LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO)


Os indiferentes
por Antonio Gramsci


Odeio os indiferentes.
Acredito que viver
significa tomar partido.

Indiferença é apatia,
parasitismo, covardia.
Não é vida.

Abomino os indiferentes.
Desprezo os indiferentes,
porque me provocam
tédio as suas lamúrias
de eternos inocentes.
Odeio os indiferentes!


MAMÃE NÃO FAZ NADA



Era uma vez uma mulher que perdeu seu nome de batismo ou melhor trocou-o por outro muito usado: o de mãe. Sendo mãe tornou-se uma pessoa essencialmente chata. A maior cobradora da paróquia. Faça isso; faça aquilo...
O relógio toca. Começa a batalha.- Vamos acordar, pessoal !!!Corre liga a água para o café. O leite também (quando tem)...- Vamos crianças, vistam o uniforme!O pai já está no banho. Rápido. Tem aula. Côa o café. Serve a mesa. Vamos pessoal. Olhe a hora. Coma o pão. Escovem os dentes. Pronto. O marido foi para o trabalho e as crianças para a escola. Trocou de roupa. Tirou a mesa, limpou a mesa do café. Arrumou as camas. Varreu a casa. Retirou o pó dos móveis.Vai ao verdureiro. Feitas as compras corre ao açougue. aproveita a saída passa pelo banco paga as contas de água e luz. Volta correndo. Faz o almoço. Olha o relógio. Está na hora do marido e das crianças chegarem... Chegaram. Serve o almoço. - Menino não belisque sua irmã!O pai pede que lave o macacão. Conta que hoje o trabalho melhorou um pouco, mas é para cuidar das despesas. Breve repouso e volta ao serviço. A mãe lava a louça do almoço. A filha seca os pratos e o filho os talheres, ele se manda para o quintal. O cachorro aparece com os pêlos da cauda bem aparados.- Esse menino! Foi por isso que ele pegou a tesoura...- Crianças façam a lição.Sim. Claro, arranjar figuras para a tarefa de geografia. Costurar a barra da calça do menino. Pregar o botão da blusa da menina.- Mãe, amanhã é aniversário da professora. Tenho que levar um bolo.Pronto. O bolo está no forno. Enquanto assa, lava o macacão.- Vamos ao dentista.- Cuidado ao atravessar a rua.Passam na panificadora. Voltam para casa.- Tomem banho!Providenciar o jantar.- Não gosta de ovo? Tem que comer. Faz bem para a saúde.- Fiquem quietos. Deixem o papai assistir o noticiário sossegado. Ele está cansado. Trabalhou o dia todo.- Vão para o banho! Já arrumaram o material para a aula de amanhã? Mas que turma!- Desde que chegamos do dentista estou dizendo para irem para o banho. Todos deitados.
Verificação total da casa. Deixar a mesa arrumada para o café matinal.- Ora veja! O menino esqueceu de guardar o caderno.Abriu-o, deu uma olhada na lição. Ele preencheu uma folha com dados pessoais:nome completo, data de nascimento, local e também dados familiares.Profissão do pai: mecânico.Profissão da mãe: não faz nada, só fica em casa.
(Autor Desconhecido