quarta-feira, 8 de julho de 2009

MICHAEL AND ME

Uma luz que muito brilha se consome rápido. E Michael Jackson brilhou muito, tanto que se consumiu rapidamente.
Michael Jackson e eu temos muita coisa em comum. Pode-se dizer que crescemos juntos uma vez que cresci ouvindo-o cantar. Também nascemos no mesmo dia, 29 de agosto. Sempre pensei que tínhamos a mesma idade quando descobri que ele era um ano mais velho que eu. Virginiano perfeccionista, não me admira que ele tenha se transformado no rei do Pop e revolucionado o mundo da música utilizando batidas do pop, do rock e da música negra.
Como bailarino foi impecável, inventando alguns passos e reinventando outros de forma a parecer que deslizava no palco. Seus shows sempre foram uma festa para os olhos e ouvidos, um deleite de prazer estético para mim.
Parecia que no palco o artista se entregava totalmente a sua arte. Parecia ainda que nesses momentos ele era feliz, encontrava um sentido para sua vida. Como ser humano, não posso dizer nada dele, mas como artista ele se dava totalmente a seu público, buscando a perfeição em tudo o que fazia.
A impressão que me passava Michael Jackson era de fragilidade. Eu o sentia com uma necessidade imensa de amor, de carinho, intuição que sua história parece comprovar. A sua vida parecia ter um imenso buraco que ele não conseguia preencher nem com a fama, nem com o dinheiro. Um homem lindo que se achava feio e vivia mexendo na aparência. Ele não conseguia se ver no espelho, não via a sua beleza. O racismo nos EUA é imensamente cruel: os artistas negros não tinham espaço e Michael ajudou a quebrar este estigma: foi o primeiro negro a ter um clipe veiculado pela MTV e isso em 1983! Que lugar atrasado!
Michael também passava muita tristeza interior. E isso me deixa triste: tão amado por muitos, tão pouco amado por aqueles que deveriam amá-lo, tão carente de amor e carinho.
Outra coisa que me deixa triste é o modo como foi usado a vida toda e até na sua morte. Transformaram-no numa coisa, uma mercadoria. Até que ponto ele tinha consciência disso e se deixou usar é que resta indagar. Será que saberemos algum
dia?












sexta-feira, 3 de julho de 2009

NOITE SEM LUA


Noite sem lua. Ruas carregadas de neblina. Numa noite como essa, parece que todos sumiram. Parece que não há ninguém na rua. Silêncio...
Uma garota caminha cambaleante em meio à névoa. Parece perdida. Estaria alcoolizada? Solitária, caminha.
Era madrugada e a garota voltava de uma festa. Com apenas quinze anos, havia ludibriado os pais para poder sair à noite e foi a uma boate. Como primeira experiência na night foi traumática: luzes piscando, pessoas rodando na pista, agarrando-se, usando drogas...Tudo lhe pareceu muito insólito. Mais estranho ainda foi o rapaz que conheceu.
Um rapaz pálido, com ares vampirescos. Cabelos escuros, pele pálida, olhos baços, o moço era sério, diferente de seus colegas de escola. E mais velho também. Ela ficou impressionada com a delicadeza do moço. Em vez de agarrá-la como seus colegas de escola, conversou com ela, buscou-lhe bebida, preocupou-se com ela.
Ficaram próximos todo o tempo e beijaram-se com delicadeza.
Perto da meia-noite a garota decidiu voltar para casa. O rapaz, gentilmente, ofereceu-se para acompanhá-la. A garota aceitou, mas explicou que ele só poderia ir até parte do caminho porque estava ali sem o consentimento dos pais.
Durante o caminho conversaram pouco. A garota, cautelosa, decidiu não dar muitos dados de si. O rapaz era lacônico por natureza. Caminharam quase em silêncio quando ele a convidou para ir ao seu apartamento ali perto. Prometeu respeitá-la, nada fazer que ela não desejasse. A garota teve medo, mas o desejo pelo desconhecido foi maior.
Ao entrar no apartamento, bateu-lhe no rosto um cheiro estranho, adocicado e quase indefinido: seria lixo em decomposição? Parecia algo apodrecendo, o que seria? O rapaz alojou-a no sofá da sala e desapareceu alguns minutos dizendo que ia a cozinha pegar algo para beber. A garota olhou o apartamento e começou a sentir medo. Um medo inexplicável fazia o seu coração bater forte, a respiração ficar ofegante e ela sentia bolhas fazendo festa no seu estômago.
O sábio medo dizia à garota para sair correndo dali, mas ela estava paralisada. O rapaz voltou da cozinha com dois copos e lhe disse para nada temer que era apenas refrigerante. A garota constatou o gosto de Coca-cola, mas algo lhe dizia para beber bem devagar e de preferência não tomar tudo.
Ao primeiro gole a cabeça começou a rodar. Rodava tanto que ela achou que viu o rapaz rindo, gargalhando e seu rosto todo se deformava em uma máscara monstruosa. De repente, ela viu (teria visto? Tudo rodava...). Um armário na parede, a porta abriu-se (sozinha?). Vários corpos caíam de lá, corpos nus de garotas jovens, todas aparentando quinze anos, todas parecidas com ela, de cabelos escuros longos, magrinha, seios pequenos. Ela abriu a boca para começar a gritar, mas o grito não saía. O rapaz vinha em sua direção. Ela levantou-se e saiu correndo, a porta estava destrancada, conseguiu encontrar a escada e descer correndo, na maior velocidade que pode, sempre olhando para ver se o rapaz a seguia...Mas não, não havia ninguém atrás dela.
Alcançou a rua e continuou correndo, desesperada, a cabeça rodando. Na rua, a escuridão, a neblina, fazia com que a situação ficasse ainda mais assustadora. Correndo, trôpega, conseguiu chegar ao metrô onde havia outras pessoas e ela se sentiu um pouco mais segura. O trem chegou e ela entrou, tremendo.
Acordou em sua cama quentinha, segura, limpinha. O medo lhe fez dar um salto.