sexta-feira, 3 de julho de 2009

NOITE SEM LUA


Noite sem lua. Ruas carregadas de neblina. Numa noite como essa, parece que todos sumiram. Parece que não há ninguém na rua. Silêncio...
Uma garota caminha cambaleante em meio à névoa. Parece perdida. Estaria alcoolizada? Solitária, caminha.
Era madrugada e a garota voltava de uma festa. Com apenas quinze anos, havia ludibriado os pais para poder sair à noite e foi a uma boate. Como primeira experiência na night foi traumática: luzes piscando, pessoas rodando na pista, agarrando-se, usando drogas...Tudo lhe pareceu muito insólito. Mais estranho ainda foi o rapaz que conheceu.
Um rapaz pálido, com ares vampirescos. Cabelos escuros, pele pálida, olhos baços, o moço era sério, diferente de seus colegas de escola. E mais velho também. Ela ficou impressionada com a delicadeza do moço. Em vez de agarrá-la como seus colegas de escola, conversou com ela, buscou-lhe bebida, preocupou-se com ela.
Ficaram próximos todo o tempo e beijaram-se com delicadeza.
Perto da meia-noite a garota decidiu voltar para casa. O rapaz, gentilmente, ofereceu-se para acompanhá-la. A garota aceitou, mas explicou que ele só poderia ir até parte do caminho porque estava ali sem o consentimento dos pais.
Durante o caminho conversaram pouco. A garota, cautelosa, decidiu não dar muitos dados de si. O rapaz era lacônico por natureza. Caminharam quase em silêncio quando ele a convidou para ir ao seu apartamento ali perto. Prometeu respeitá-la, nada fazer que ela não desejasse. A garota teve medo, mas o desejo pelo desconhecido foi maior.
Ao entrar no apartamento, bateu-lhe no rosto um cheiro estranho, adocicado e quase indefinido: seria lixo em decomposição? Parecia algo apodrecendo, o que seria? O rapaz alojou-a no sofá da sala e desapareceu alguns minutos dizendo que ia a cozinha pegar algo para beber. A garota olhou o apartamento e começou a sentir medo. Um medo inexplicável fazia o seu coração bater forte, a respiração ficar ofegante e ela sentia bolhas fazendo festa no seu estômago.
O sábio medo dizia à garota para sair correndo dali, mas ela estava paralisada. O rapaz voltou da cozinha com dois copos e lhe disse para nada temer que era apenas refrigerante. A garota constatou o gosto de Coca-cola, mas algo lhe dizia para beber bem devagar e de preferência não tomar tudo.
Ao primeiro gole a cabeça começou a rodar. Rodava tanto que ela achou que viu o rapaz rindo, gargalhando e seu rosto todo se deformava em uma máscara monstruosa. De repente, ela viu (teria visto? Tudo rodava...). Um armário na parede, a porta abriu-se (sozinha?). Vários corpos caíam de lá, corpos nus de garotas jovens, todas aparentando quinze anos, todas parecidas com ela, de cabelos escuros longos, magrinha, seios pequenos. Ela abriu a boca para começar a gritar, mas o grito não saía. O rapaz vinha em sua direção. Ela levantou-se e saiu correndo, a porta estava destrancada, conseguiu encontrar a escada e descer correndo, na maior velocidade que pode, sempre olhando para ver se o rapaz a seguia...Mas não, não havia ninguém atrás dela.
Alcançou a rua e continuou correndo, desesperada, a cabeça rodando. Na rua, a escuridão, a neblina, fazia com que a situação ficasse ainda mais assustadora. Correndo, trôpega, conseguiu chegar ao metrô onde havia outras pessoas e ela se sentiu um pouco mais segura. O trem chegou e ela entrou, tremendo.
Acordou em sua cama quentinha, segura, limpinha. O medo lhe fez dar um salto.

2 comentários:

Priscila disse...

Ge, vou deixar o comentário aqui também, caso vc não entre lá:

É um conto não tanto aterrorizante, é mais tranquilo porque a parte que dá medo mesmo não aparece. Gostei a partir do terceiro parágrafo: como é um texto curto e misterioso, é legal que "a garota" ou a cena não sejam apresentadas como aconteceu na primeira parte, e sim já inseridos como se o leitor já conhecesse (na minha opinião egoísta, claro :) ), isso dá um clima bem legal.
O final é bom, gostei porque no início mostra a menina indo pra festa sozinha... e como ela vai sozinha, não há quem confirme se tudo aconteceu ou não. Dá a dúvida.

Bjins

José Soró disse...

Oi Gê
Quantos anos.
Acabei te encontrando como seguidora no Blog da Quilombaque. Como vai?
Estou há dois anos desenvolvendo um trabalho de assessoria em planejamento e formação de lideranças com a Quilombaque. Molecada porreta!
Ainda mora em Perus?
Acabei de me mudar para Caieiras.
Anotei seu e-mail. Me encontrará também lá no ORKUT como Soró e os Magnatinhas. Aproveito para lhe enviar meus outros endereços
www.josequeiroz.wordpress.com
e-mail: josesqueiroz@gmail.com
Fico feliz pois continuas sentada na lua lançando estrelas de poesia.
Beijos
Soró