domingo, 14 de junho de 2009

O CÉREBRO ELETRÔNICO E AS RELAÇÕES

CÉREBRO ELETRÔNICO
(GILBERTO GIL)
O cérebro eletrônico faz tudo
Faz quase tudo
Faz quase tudo
Mas ele é mudo
O cérebro eletrônico comanda
Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda
Só eu posso pensar
Se Deus existe
Só eu
Só eu posso chorar
Quando estou triste
Só eu
Eu cá com meus botões
De carne e osso
Eu falo e ouço.
Eu penso e posso
Eu posso decidir
Se vivo ou morro por que
Porque sou vivo
Vivo pra cachorro e sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
No meu caminho inevitável para a morte
Porque sou vivo
Sou muito vivo e sei
Que a morte é nosso impulso primitivo e sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Com seus botões de ferro e seus olhos de vidro

No dia 13 de setembro de 2008 fui visitar a exposição Emergência! Emoção art.ficial 4.0 no Itaú Cultural que foi indicada pelo professor Ênio Moraes.
Convidei a minha amiga Luciana, que não via há um ano já, para ir comigo e depois iríamos conversar e passear pela avenida Paulista.
Nesse tempo em que estivemos longe mantivemos nosso contato pelo espaço cibernético, a internet. E, quando nos encontramos, parecia que tínhamos acabado de nos ver no dia anterior.
Foi uma sensação interessante entrar nessa exposição, principalmente quando tem um tema como esse em que une arte e tecnologia: à primeira vista as coisas pareciam não fazer sentido. Tudo parecia um amontoado de circuitos e eu me perguntava: cadê a arte? Aquelas coisas seriam arte? E que tipo de arte?
O meu cérebro está acostumado a ver as coisas de forma linear, por isso demorou a entender a proposta interativa da exposição. No começo só vi um monte de máquinas e uma parafernália que para mim nada parecia ter a ver com arte.Mas aos poucos fui me inteirando do assunto e pensando bastante sobre a questão que se colocava na exposição, a emoção art.ficial.
Minha amiga é do signo de Peixes, elemento água que tem como característica a emoção. Eu, como virginiana, sou racional. Isso faz a nossa relação mais completa. Enquanto que eu só via a parte eletrônica e aquilo para mim em nada se parecia com arte, a minha amiga foi observando a parte que sobressaía das máquinas estabelecendo relações.
Tumbling Dream Chambers

A primeira relação que ela estabeleceu foi com os espelhos. Os quadros redondos da obra Tumbling Dream Chambers lhe pareceu espelhos. A monitora explicou que eram ambientes virtuais. Para mim pareciam céus estrelados. Duas amigas me chamaram para ver uma sala em que podíamos interagir com sons e depois ver e ouvir livros. O professor Ênio nos mostrou as esculturas musicais, feitas a partir da impressão material de uma música. Nesse momento falamos dos espelhos.
Procuramos espelhos em tudo. Na arte, no mundo, nos amigos. Seremos narcisistas?
Narciso se afogou nas águas em que se mirava. Corremos também esse risco?
Foi nesse momento que entendi o que estava fazendo ali, por que convidei minha amiga e por que conversava com colegas de turma e o professor. Se eu estiversse sozinha, sentiria falta dessa interlocução que me fez pensar. Refletiria sobre o que via, mas me sentiria muito só.
Ali naquele momento redescobri a importância das relações, as humanas, as afetivas, as que temos com nossos espelhos que nos mostram quem nós somos. E ficou muito mais clara para mim a importância da arte: ela mostra nosso lado mais humano. Ficou claro também que por trás do cérebro eletrônico tem o cérebro humano.
Para pensar, deixo aqui as palavras de Leonardo Boff:
"Construímos o mundo a partir de laços afetivos. Esses laços tornam as pessoas e as situações preciosas, portadoras de valor e infinitamente adoráveis.
Nenhuma máquina, nenhum computador (nem o mais inteligente) pode fazer isso. Eles não estendem o braço e nos tocam carinhosamente, nem choram com nossos infortúnios.
O ser humano, sim, porque ele tem um coração que sente a chaga do coração do outro e sabe compadecer-se dele. " (Fonte: FOLHETO do projeto Revelando São Paulo)

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